
O Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o alto lugar no ranking é puxado principalmente pelos altos índices dos casos de piora na saúde mental em mulheres.
É o que diz a última pesquisa do Instituto Think Olga, que mostra que, a cada 10 brasileiros com ansiedade e depressão, sete são mulheres. O número, para a psicóloga e responsável pelo Projeto Reinserir, Natália Silva, não é surpreendente e pode ser explicado pela sobrecarga de responsabilidades.
“Pelo menos 90% das minhas pacientes são mulheres e elas estão adoecidas por conta de excesso de demanda, excesso de responsabilidades, ou seja, sobrecarga. Historicamente já é nos atribuído o papel de cuidado, que faz a manutenção da vida, regulação da vida do parceiro, dos filhos, somos colocadas nesse lugar. Quando a gente vê, caímos”, afirma.
As duas condições, segundo Natália, podem aparecer juntas e até como sintomas em cada doença. “A gente pode entender que na ansiedade, o sujeito não relaxa, são preocupações e medos que atrapalham a manutenção da vida diária. Na depressão, encontramos comportamentos de apatia, pensamentos negativos, tristeza profunda, sentimento de culpa e inutilidade. Muitas vezes os dois problemas vêm em combo”, explica.
O levantamento também aponta que 35% das mulheres que responderam à pesquisa têm ansiedade.
O esgotamento, citado pela psicóloga Natália Silva, é uma das causas para o aumento da depressão e ansiedade entre as mulheres brasileiras. “Muitas vezes a gente se depara com uma falta de rede de apoio, principalmente com parceiros, onde as mulheres se veem sozinhas com as demandas, seja dos filhos, dentro de casa, tudo fica para a mulher da conta e elas não estão conseguindo dar conta. Não só não estão conseguindo, como estão adoecendo tentando dar conta”, pontua.
A falta de uma rede de apoio e até situações de abuso podem gerar o quadro de depressão e ansiedade.
O aumento de casos de ansiedade e depressão em mulheres também afeta a vida social das mulheres. Thays Ferreira, que sente viver em um ‘eterno esgotamento’, afirma ter diminuído o círculo de amigos devido ao problema e a quantidade de responsabilidades que tem.
“Tenho muitas demandas, até falo que tenho ‘preguiça de manter amizades’, não consigo conciliar. Tenho uma amiga que a gente combina de fazer um almoço e só reclamamos que estamos cansadas, exaustas. Não vejo o mesmo com meu namorado ou em homens, essa pressão toda de conciliar as coisas está com as mulheres”, analisa.
Edine conta que todas as amigas dela têm depressão, ansiedade ou as duas condições juntas. “Todas tentando alcançar melhores condições, uma ou outra sem apoio do cônjuge ou da família, sem dinheiro para terapia, com orçamento apertado. Ser mulher é difícil, tudo precisa ser conquistado com muita luta”, lamenta.
Segundo a psicóloga Natália Silva, a depressão e a ansiedade podem ser relacionadas com a desigualdade de gênero. “A diferença de salário, das posições nas organizações, a própria demanda da maternidade dentro das organizações, como tudo isso influencia também na saúde mental das mulheres”, pontua.
Para tratar a saúde mental, a terapia sozinha não é eficaz. Por isso, Natália Silva afirma que dentro das sessões, ela tem estratégias para empoderar a mulher e fazer ela entender que é preciso impor limites para afastar a sensação de esgotamento.
“Normalmente quando a mulher chega com a demanda, a condição de exaustão e esgotamento, seja profissional ou familiar, independente do âmbito, apresentamos o estabelecimento de limites, propomos que as mulheres estabeleçam um teto e delegue responsabilidades, divida, e conte que está sobrecarregada”, pontua.
Além disso, Natália cita que estabelecer uma rede de apoio é essencial.“Ainda mais quando as coisas estiverem difíceis, é preciso ter com quem contar. E até lugares em que se possa pensar em estratégias de enfrentamento à exaustão e trazer à tona a importância de saber a necessidade de descansar”, diz.
Para afastar a melancolia e sintomas da depressão, Edine percebeu que cuidar do corpo pode ser aliado da terapia e do acompanhamento psiquiátrico. “A atividade física ajuda muito a amenizar os sintomas. Em julho tive aulas de yoga e percebi que em pouco tempo me senti menos melancólica, mas com a faculdade voltando, tive de parar”, conta.
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