
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, gerou forte controvérsia ao compartilhar nas redes sociais um vídeo contendo declarações de líderes religiosos que defendem a retirada do direito de voto das mulheres e relativizam a escravidão.
O conteúdo, originalmente produzido pela CNN, inclui entrevistas com o pastor evangélico conservador Doug Wilson, figura central na Comunhão das Igrejas Evangélicas Reformadas (CREC), e outros religiosos ligados ao movimento.
O que disseram os pastores no vídeo
Durante a reportagem, Wilson afirmou que o papel da mulher está restrito ao lar e à criação dos filhos, argumentando que a Bíblia define esse como o seu principal chamado.
“A esposa e mãe, que é a principal executiva do lar, é encarregada de três, quatro ou cinco almas eternas”, declarou.
Outro pastor, Toby Stumper, defendeu o chamado “voto familiar”, onde apenas o homem provedor votaria em nome de todos. Segundo ele, a decisão eleitoral seria tomada “após discussão com a família”.
Uma fiel entrevistada reforçou essa visão, dizendo:
“Meu marido é o chefe da nossa família e eu me submeto a ele.”
Defesa da escravidão e posições sociais extremas
Doug Wilson também reiterou comentários antigos nos quais afirmou que havia “afeição mútua” entre escravos e senhores no período da escravidão no sul dos EUA. No livro Southern Slavery, As It Was, ele argumenta, com base em interpretações bíblicas, que certos tipos de escravidão não deveriam envergonhar os evangélicos.
Além disso, o pastor já declarou:
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Que mulheres não deveriam ocupar cargos de liderança ou combate nas Forças Armadas.
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Que a sodomia deveria ser recriminalizada, contrariando decisão da Suprema Corte de 2003.
“Não aceito mulheres para cargos de liderança dentro da igreja porque a Bíblia diz assim”, reforçou Wilson na entrevista.
Apoio do Secretário de Defesa
Ao republicar o vídeo na plataforma X (antigo Twitter), Hegseth acrescentou a frase:
“Tudo de Cristo para toda a vida.”
O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, confirmou que Hegseth é membro de uma igreja ligada à CREC e que “aprecia muitos dos escritos e ensinamentos de Wilson”.
Especialistas alertam para risco político
O professor de sociologia Andrew Whitehead, da Universidade de Indiana, especialista em nacionalismo cristão, afirmou à NPR que as ideias defendidas por Wilson e seus seguidores não ficam restritas ao âmbito pessoal:
“O objetivo é disseminar essas crenças e, no fim, aplicá-las em toda a sociedade. Não se trata apenas de opinião individual, mas de um projeto político.”
Whitehead destacou que a postura de Hegseth é preocupante por vir de alguém com grande influência na política e na defesa nacional dos EUA:
“Importa muito se o Secretário de Defesa está divulgando visões que defendem restringir o voto feminino, limitar funções de combate para mulheres e minimizar a escravidão.”
Contexto político-religioso
A aproximação entre religião e governo já havia ganhado força no início do mandato de Donald Trump, quando foi criado um “gabinete da fé” para investigar suposto “preconceito anticristão” em órgãos públicos. Seguindo a mesma linha, Hegseth convidou seu pastor pessoal, Brooks Potteiger, para realizar cultos cristãos dentro do Pentágono durante o expediente, com convites enviados a funcionários e militares.
A repercussão do caso levanta debates sobre a separação entre Igreja e Estado, o impacto do nacionalismo cristão e a defesa de ideias que afrontam direitos constitucionais, como o voto feminino e a igualdade de gênero.