
Morre o ator Francisco Cuoco, aos 91 anos, em São Paulo
O ator Francisco Cuoco, um dos nomes mais emblemáticos da dramaturgia brasileira, morreu nesta quinta-feira (19), aos 91 anos, em São Paulo. A informação foi confirmada por familiares. Ele estava internado há cerca de 20 dias no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, tratando de complicações de saúde decorrentes da idade avançada e de uma infecção. Durante todo o período de internação, permaneceu sedado. A causa oficial da morte ainda não foi divulgada.
Natural de São Paulo, Cuoco deixa três filhos: Rodrigo, Tatiana e Diogo. Desde 2020, após sua participação na novela Salve-se Quem Puder, ele havia se afastado das produções televisivas devido a problemas de saúde. Nos últimos anos, morava com a irmã Gracia, de 86 anos, e recebia cuidados constantes.
Um ícone da dramaturgia
Nascido em 29 de novembro de 1933, Francisco Cuoco construiu uma trajetória marcante no teatro, no cinema e, principalmente, na televisão. Conhecido por sua versatilidade, transitou com naturalidade entre personagens românticos, dramáticos e complexos, conquistando tanto o público quanto a crítica.
Inicialmente, Cuoco pensou em seguir carreira no Direito, mas abandonou o curso para ingressar na Escola de Arte Dramática de São Paulo, na década de 1950. Sua estreia nos palcos aconteceu no final daquela década, com passagens pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Um dos primeiros papéis de destaque foi na peça O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, em 1961.
Na televisão, estreou no início dos anos 1960, participando de programas como Grande Teatro Murray e, posteriormente, protagonizando a novela Renúncia (1964). Nas décadas seguintes, acumulou papéis de destaque em produções que marcaram a história da teledramaturgia brasileira, como Redenção (1966–1968), Sangue do Meu Sangue (1969), Assim na Terra Como no Céu (1970), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975) e O Astro (1977), entre outras.
No cinema, brilhou em filmes como Traição (1998), Gêmeas (1999), Um Anjo Trapalhão (2000), Cafundó (2005) e Real Beleza (2015).
Voz ativa contra a ditadura
Francisco Cuoco também teve uma postura crítica em relação ao regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Em uma entrevista concedida à TV Globo, em 2002, o ator classificou o período como “nocivo, brutal e desumano”, relatando os impactos da censura e da repressão sobre a produção artística da época.
“Foi brutal, como todo regime de força. Ficamos em choque. Circulávamos com medo. A dramaturgia sofreu, autores pararam de escrever, músicas passaram a usar códigos para burlar a censura. Era um tempo de tesoura, tortura e prisões arbitrárias”, relembrou na ocasião.
Cuoco também destacou o impacto da ditadura sobre gerações de artistas e intelectuais, lamentando os talentos que foram silenciados.
“Lembro desse tempo com dor, com pena dos talentos que se perderam, dos livros que deixaram de ser escritos”, disse.